segunda-feira, 13 de julho de 2009

No dia que Michael Jackson morreu

Dias desses fui visitar um amigão que não mora mais aqui na cidade. Juntei dinheiro, comprei a passagem e numa quinta-feira embarquei para a tão aguardada temporada. Fiquei num hotelzinho meia boca, já que ele estava recebendo visita em casa no mesmo fim-de-semana. Ah, o nome dele é Fernando, mora sozinho, mudou de cidade para trabalhar e não nos víamos há pouco mais de um ano. A pessoa que ele estava recebendo era uma antiga paquera. Não me lembro o nome dela, então vou chamá-la de Keyla.

Para prosseguir com a minha aventura, tenho que contextualizá-los sobre o relacionamento de Fernando e Keyla. Eles se conheceram no começo do ano, na praia. Foi um desses amores de verão totalmente movido por prazeres carnais. Fernando é ateu. Keyla é evangélica. Fernando identifica uma cachaça só pelo odor. Keyla não bebe.

Graças ao MSN, Orkut, e bla bla blas tecnológicos, a paquera não morreu. Keyla teve a grande idéia de visitá-lo. Fernando estava pensando que seriam dois, no máximo três dias. Errou feio. Keyla chegou com duas malas, um secador e muita simpatia para ficar sete dias. Ah! Um grande e importantíssimo detalhe: Fernando é do tipo solteiro convicto, nunca namorou e não vê a menor graça nisso. Mais de cinco horas do lado de qualquer mulher que não seja irmã ou prima, por mais gostosa que seja, é um martírio.

Ok, voltemos. Eis que chego à grande cidade no fim da tarde de quinta-feira. Liguei na mesma hora para o Fernando para agilizarmos um encontro, um evento, uma jogatina. E para eu conhecer a tal namoradinha. Keyla já era hóspede dele desde a noite de terça-feira. O desespero da convivência já estava começando a ficar nítido. Do outro lado do telefone, a voz agoniada do bichinho: “Fi, não agüento, não agüento! Vou dar um zig nessa mina hoje!”. Tudo que eu pensei foi: “Cara, ta viajando! A guria ta lá, dormindo na casa dele.. como ele vai dar o vaza?”

Eis a resposta. Algumas horas depois, a gente se falou de novo. Fernando já estava com uma boa quantidade de álcool no sangue, comemorando a tal virilidade. “Fi! Dei o zig, dei o zig!”, gritava. Ele estava num pub enchendo a cara. Inventou uma mentira sinistra pra garota: falou que estava num happy hour do trabalho e que tinha ido de carona. O cara-de-pau ainda pediu pra que ela deixasse o ape aberto porque não sabia que horas e nem como ia voltar pra casa. A menina acreditou. Mentiroso desgramado! Essa foi mais uma das provas de como o Fernando é sagaz e de como os homens, definitivamente, não prestam. Mas confesso que a sagacidade foi grande e louvável. Fui encontrar ele.

Nesse meio tempo, algumas coisas estranhas aconteceram. Meu tio me visitou no hotel e ficou falando sobre a minha vida profissional. Além disso, os jornais do mundo todo falavam que Michael Jackson, o rei do pop, tinha morrido.

Fernando estava bêbado, trebado. Poucas vezes o vi dessa forma. Ele sorria, abraçava as pessoas. Não parecia nem um pouco com a pessoa melancólica que eu tinha falado mais cedo. Uma bela comemoração do triunfo. Entrei na onda. Jogatina e dança comandaram a noite. E para finalizar, o perdido máster: o jovem simplesmente dormiu fora e voltou para a casa pela manhã.

No dia seguinte, obviamente a menina deu o troco. Mexeu no armário do rapaz, vestiu uma camiseta de sair dele, trancou o apartamento e foi malhar na cobertura. Tudo isso sem avisar, claro. E ele descobriu isso quando chegou em casa, atrasado para o trabalho, querendo pelo menos trocar de roupa. Diz ele que, depois de ligar inúmeras vezes no celular de Keyla, ela apareceu com aqueles olhos do gato de botas do Shrek, como quem pede desculpas. No entanto, tenho minhas dúvidas. Sou capaz de defender descaradamente que a menina tinha um sorriso malicioso e um olhar de vingança.

E chegava o fim-de-semana. Na sexta achei melhor nem incomodá-lo, para ele poder curtir um pouco mais das maravilhas do romance. Não sei o que aconteceu nesse dia, mas coisa boa não foi. No sábado, enquanto confundia meu sonho com as brigas da recepcionista e um hospede do hotel, acordei com a ligação do meu amigo: “Fi, tenho que falar rápido. Ela saiu, foi numa feira aqui perto. Cara, não dá, não dá – na voz mais desesperada que puder imaginar – não dá! Me ajuda a bolar um plano! Hoje ela vai ter que sair da minha casa”.

A princípio parece a atitude mais malvada que alguém pode ter! E, de verdade, naquela hora não quis nem ouvir as justificativas para tanto desespero. Mas, com o passar dos dias e ouvindo melhor os detalhes da relação atípica (mas bem típica para ele) é totalmente compreensivo tudo isso.

No entanto, mesmo sem saber de um quinto das peculiaridades daquela moça, apertei a mão do meu amigo, por telefone mesmo, e oficializei, naquele momento, a maior prova de amizade que eu poderia dar e a maior falta de lealdade com o universo das mulheres que poderia sair de mim. “Ok, conta comigo!”. Desliguei o telefone, liguei a televisão e peguei um chocolate. Fui pensar. Se pudesse citar a cena de um filme para retratar isso, seria a do “Esqueceram de mim”, quando o Macaulay Culkin descobre que os ladrões vão assaltar a sua casa e começa a mirabolar mil e um planos infalíveis.

Nos falamos mais umas 28 vezes, no mínimo. Por fim, a melhor estratégia que eu consegui propor foi que ele falasse a verdade, mesmo que pra isso fosse necessária uma D.R.. Doce ilusão feminina. Fernando apareceu com algo melhor. Ou pelo menos muito mais perigosamente emocionante. Seria o seguinte: uma namorada (que nunca existiu) iria chegar de surpresa na noite daquele dia. O affair entre ele e essa suposta garota teria acontecido depois do romance de verão. E tudo acabou por que a garota teve que mudar de cidade. E para tranqüilizar um pouco, ele iria comprar uma caixa de chocolates para aliviar o impacto da notícia.

Ok. Este é o pior tipo de cafajeste que alguém pode pensar em imaginar. Mas foi o que ele fez. E eu, depois de entregar inocentemente a minha amizade para ajudar até os mais injustos dos amigos, só pude concordar com o plano. A minha parte seria ficar de prontidão para o caso da Keyla não acreditar na história falada e ter que ver a suposta namorada (que seria representada fisicamente pela minha pessoa). Também tive atos malvados pensados. Mandei mensagens fofas e até o horário e o número de um vôo qualquer da Gol, para que ele pudesse ter provas concretas. Fiquei esperando para ver qual seria o próximo passo.

(No filme de Macaulay Culkin, essa é a hora que ele entra na igreja, um pouquinho antes das armadilhas serem colocadas em prática)

Não precisei sair do ar-condicionado do hotel. Fernando contou a falsa história de amor e Keyla acreditou direitinho. E quem pensa que ele foi sagaz, ainda não viu nada. Keyla precisava só aceitar a lorota. Mas a espertinha (sim! Espertinha! Neste momento vi que ela não era nem um pouco boazinha e que os movimentos pareciam bem mais friamente calculados que os do Fernando), aquela moça boa e que não bebia quis mais. Bastou isso para que ela admirasse a lealdade do rapaz com a tal namorada invisível. E qual a melhor forma de mostrar tamanha admiração? Ok, isso mesmo. Da forma mais sedutora, quente, suja (sim, oras!) e prazerosa. Brindou a canalhisse com taças de vinho. Por fim, a cara-de-pau ainda ajudou o rapaz inocente à arrumar a cama, com as almofadas nos devidos lugares. Afinal, o grande amor dele estava chegando em algumas horas.

Keyla foi embora. Fernando pagou o táxi. Vitória sagaz. Eu consagrei minha cabeça masculina. E decidi: nunca mais vou acreditar nos homens. Tenho motivos de sobra. A noite acabou com uma comemoração sagaz. A cerveja era liberada até as 6h30. Fui embora no dia seguinte. E os jornais não mentiam: Michael morreu mesmo. Parece que ele teve uma parada cardíaca. Pelo menos é o que dizem.


*** Um pouquinho de realidade, um poquinho de ficção.

4 comentários:

  1. Uma das coisas que eu tenho mais orgulho em toda a minha vida é ter te dado a notícia de que Michael morreu... e você nem pra pagar pau e citar isso na história!
    E tem mais, "amor de verão" é ridiculo. A gente tem que chamar isso de pegação descompromissada... Falei!?

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  2. Ok, ok... foi mesmo você quem me deu essa notícia. Mas, meu caro, essa é uma história real contada com fatos fictícios. Este é um deles. O "amor de verão" também.
    E tem mais! Já paguei pau demais nessa história. Você acha que precisa de mais???!??

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  3. Eu achei fraca. Acho que dá pra tirar um pouco mais de "emoção" do desfecho dessa história... mwuhauhauhauah!

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  4. Esse cara é o exemplo de um não-zz... Cabuloso e ainda se deu bem no final! Hahaha

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