terça-feira, 28 de julho de 2009

Mamãe eu sou ateu

Eu publiquei esse texto há muito tempo atrás, em outro blog, mas achei interessante publicá-lo novamente devido a minha falta de assunto. Obviamente dei uma melhorada, mudei algumas palavras, mas mantive a alma do assunto – Alma? Saravá.


*

Metade de uma família está jantando. A refeição? Um suculento carpaccio – basicamente carne crua com molho de mostarda e parmesão. Ainda é cedo, começo da noite. Muitas coisas estariam por vim.

- Meu filho, por que você não usa um escapulário?

O garoto se contorceu por dentro. Ele sabe o que é um escapulário e sabe mais ainda que não usaria um. Como prosseguir essa conversa sem causar desconforto?

- Mãe, não seria coerente fazer isso.

Não foram as melhores palavras, embora as mais simples, mas foram suficientes para mexer com o orgulho materno. Talvez seja inadmissível a idéia de que usar um escapulário seja incoerente. Algumas pessoas podem se ofender seriamente com isso.

- Claro que seria coerente. É pra te proteger.

A imaturidade de um jovem não sabe lidar com esse tipo de afirmação. Para que ele precisaria de proteção? Proteger-se do que afinal?

Seu senso de humor logo começou a funciona, passaram pela cabeça uma dúzia de respostas interessantes, e com certeza essa foi uma das respostas que ele não deu.

- Me proteger do que? De bala perdida? De político ladrão?

Seriam boas idéias, dadas as circunstâncias atuais do país, mas sabemos que precisamos muito mais do que fé para solucionar esses problemas.

- Mãe, você sabe que não acredito nessas coisas.

Ela já ouvira falar realmente, mas não acreditava que poderia ter um filho assim. Isso não fazia parte dos seus planos. Impulsiva, não se conteve:

- Acredita sim, você ainda tem muito que aprender. Você vai ver!

Esse tom profético já causa espasmos cerebrais em pessoas céticas, mas o que doeu mesmo foi o tratamento descompassado com a idade da cria.

- Mamãe, eu sou ateu.

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