quinta-feira, 30 de julho de 2009

Brasília

Brasília. A cidade sonhada por Dom Bosco e concretizada por Juscelino Kubitschek. A cidade das nuvens doidas, das linhas planejadas, das ruas largas. A moderna capital federal, localizada a mais de 1000 metros acima do nível do mar, cercada por calangos e políticos. Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco e berço de lendárias bandas de rock, como Legião, Paralamas e Capital. São quase 50 anos de muito glamour, secura e, por que não, provincianismo? Sim, isso mesmo. Que me desculpem os fiéis defensores de que a cidade de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer é o grande avanço do país das últimas cinco décadas e ponto. Mas, apesar dos mais de 2 milhões de habitantes, a capital também se define como uma cidade interiorana.

Antes de qualque coisa, vou me explicar. Não sou adepta ao pensamento de que Brasília não tem opções culturais, turísticas ou para o lazer. A capital tem tudo isso. Que o digam as milhões de opções do Centro Cultural Banco do Brasil, os sambas, rocks e criolinas espalhados pela cidade. Os bares. A inclusão no circuito da moda e do turismo nacional. Sem contar as infinitas cachoeiras, parques e animais, que dão uma oportunidade incrível de contato com a natrueza. Claro que isso sequer beira a perfeição. Estamos longe da praia e os melhores shows internacionais raramente chegam por aqui. Mas desafio alguem à encontrar uma cidade perfeita. Enfim, Brasília tem sim seus atrativos.

Também defendo que a cidade em formato de avião decolou no quesito intelectualidade. Aqui estão belíssimos formadores de opinião (para o bem ou para o mal). Os críticos de cinema, música, futebol e política não são necessariamente famosos. Estão sentados nos bares da Asa Norte, da Asa Sul. São pessoas que conhecemos à 5, 10 anos e frequentam a intimidade de nossas casas. Também não era para menos. O antro da política tem uma faculdade em cada esquina. Óbvio que isso não quer dizer muita coisa. Mas ainda assim dá pra salvar coisa boa de alguns que se classificam como curso superior (in)completo.

No entanto não é de nada disso que eu estou falando. Em julho de 2005, a comunidade “Brasília tem três pessoas” foi criada no orkut. Hoje o grupo tem 9.955 membros. Na descrição, diz o seguinte:
“Brasília tem três pessoas: Eu, você e alguém que a gente conhece.

- Vc já ficou com uma amiga(o) da sua(seu) ex-namorada(o) sem nem saber que elas/eles se conheciam?
- Já contou pra um brother que ficou com uma mulher "show de bola" e nessa hora descobriu que era a irmã caçula dele?
- Vive dando de cara com seus amigos em casas de outros amigos de círculos totalmente diferentes?
- Já se pegou falando mal de alguém e descobriu que os dois eram brothers/parentes...eita, essa é boa!!..huahuahuahuahua.”


É exatamente isso que quero dizer quando defino a cidade como uma metrópole interiorana. Aqui você pode viver os avanços civis, sociais e tecnológicos mas tudo bem longe do anonimato. Aqui todo mundo se conhece. Arrisco em dizer que Brasília é quase que uma galera só. O seu novo affair ser amigo do irmão da sua amiga (e vocês nunca terem se visto nos últimos três anos) é algo extremamente comum. Tão rotineiro quanto encontrar, por acaso, todas as pessoas sérias do seu trabalho em um show, num domingo a noite, à céu aberto em frente a Torre de TV.

Também acho difícil dividir os grupos por profissão. Publicitários andam com jornalistas que, por suas vez, são amigos de psicólogos que andam com engenheiros. Estes andam com biólogos, advogados e médicos. Os arquitetos andam com estatísticos que andam com músicos. E por aí vai.

Os bares e casas de amigos são o melhor cenário representativos para o fato. É incrível como você parece conhecer cada pessoa por lá. E quando você troca idéia com uma pessoa até então "desconhecida", fatalmente você chega ao seguinte diálogo:
- Ah! Que legal! Então você conhece fulano?
- Conheço! Fulano é amigo de ciclano, não?
- Sim! Ciclano! estudei com ele na 5° série.

Fatalmente esse diálogo existirá. Em Brasília você se sente seguido e observado o tempo todo. E juro: isso não é sintoma de algum tipo de síndrome do pânico ou de perseguição. Aqui você é conhecido sem nunca ter tido um único feito histórico. É incrível. Ou não.

As vezes tudo isso é bem contraditório. Brasília tem o maior número de vizinhos antipáticos por metro quadrado. Pessoas que moram perto há mais de 10 anos facilmente resumem o seu histórico de conversa em “bom dia” ou “boa noite” (se é que tiveram diálogo ao longo desses anos). Mas ainda assim, quando estão dispostos a uma conversinha, é fato que encontrarão amigos, gostos e até paqueras em comum. Vai dizer que não?

terça-feira, 28 de julho de 2009

Mamãe eu sou ateu

Eu publiquei esse texto há muito tempo atrás, em outro blog, mas achei interessante publicá-lo novamente devido a minha falta de assunto. Obviamente dei uma melhorada, mudei algumas palavras, mas mantive a alma do assunto – Alma? Saravá.


*

Metade de uma família está jantando. A refeição? Um suculento carpaccio – basicamente carne crua com molho de mostarda e parmesão. Ainda é cedo, começo da noite. Muitas coisas estariam por vim.

- Meu filho, por que você não usa um escapulário?

O garoto se contorceu por dentro. Ele sabe o que é um escapulário e sabe mais ainda que não usaria um. Como prosseguir essa conversa sem causar desconforto?

- Mãe, não seria coerente fazer isso.

Não foram as melhores palavras, embora as mais simples, mas foram suficientes para mexer com o orgulho materno. Talvez seja inadmissível a idéia de que usar um escapulário seja incoerente. Algumas pessoas podem se ofender seriamente com isso.

- Claro que seria coerente. É pra te proteger.

A imaturidade de um jovem não sabe lidar com esse tipo de afirmação. Para que ele precisaria de proteção? Proteger-se do que afinal?

Seu senso de humor logo começou a funciona, passaram pela cabeça uma dúzia de respostas interessantes, e com certeza essa foi uma das respostas que ele não deu.

- Me proteger do que? De bala perdida? De político ladrão?

Seriam boas idéias, dadas as circunstâncias atuais do país, mas sabemos que precisamos muito mais do que fé para solucionar esses problemas.

- Mãe, você sabe que não acredito nessas coisas.

Ela já ouvira falar realmente, mas não acreditava que poderia ter um filho assim. Isso não fazia parte dos seus planos. Impulsiva, não se conteve:

- Acredita sim, você ainda tem muito que aprender. Você vai ver!

Esse tom profético já causa espasmos cerebrais em pessoas céticas, mas o que doeu mesmo foi o tratamento descompassado com a idade da cria.

- Mamãe, eu sou ateu.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Brincadeira na churrascaria

A história que vou contar aconteceu numa famosa churrascaria de Brasília. Não era a mais cara, mas era bem conceituada. A carne de la é boa, o rodízio é bem completo e o preço o mais acessível da cidade. Na época um amigo meu trabalhava como garçom – era ele quem servia a alcatra e era ele o personagem central dessa lorota.

Gabriel é um sujeito baixo, gente boa e bem desenrolado com as mulheres. Apesar da sua altura poderíamos considerá-lo um cara pegador, um macho semi-alfa entre seus amigos.

Como em todo local de trabalho, na churrascaria há hierarquia e cargos. Os funcionários almejam a ascensão e um desses caminhos passa pela anatomia bovina. O sistema é complexo, mas basta entender que o garçom que serve picanha é mais experiente que o da maminha.

Gabriel servia Alcatra, estava bem na hierarquia, mas trabalhava apenas meio período – o período da noite. Era como um freelancer da carne, o contrataram assim, mas assim não queria ficar. Ele queria carteira assinada e queria crescer. Quem sabe picanha, que sabe metri.

Certa quarta-feira, no começo do expediente, seu chefe o chama e diz que iria mudá-lo de área, digo, de carne. A partir de segunda iria servir cupim.

- Que grande bosta! Vou servir carne gordurosa. Fui rebaixado – pensou Gabriel com toda sua testosterona a flor da pele.


Mas era pior que isso. O cupim é uma carne pouco apreciada, bem gordurosa. Apenas os gordos e peludos a solicitam. Nada de jovens e belas malhadas do lago sul, nada de peitudas e seus decotes. Ninfetas nem pensar. Como poderia dar aquela olhadinha por cima, da posição privilegiada e superior de um digno garçom de alcatra. E sim, era ainda pior. Ele teria que trabalha no período integral, mas nada de carteira assinada. Nada de um salário à altura. Nada de porra nenhuma.

Gabriel então teve uma idéia. Iluminou-se por dentro, respirou fundo, encheu o peito de ar. Algo de macho bem alfa o impulsionou em direção ao chefe, como um lobo que desafia a hierarquia, que se prepara para uma luta, prestes a destronar um rei.

- Ó, se vocês me quiserem em período integral, podem me contratar. Quero carteira assinada.

Foi a maior de todas as atitudes profissionais do garoto. Ele enfim virará homem, sua transformação estava completa. Poderia sair de la sem emprego, mas sairia como homem. Viril e sagaz, cheio de autoconfiança. Um alfa dominante.

O chefe o olhava por cima dos óculos, a cabeça ligeiramente inclinada para frente. O contato visual foi forte e intenso. No instante em que se preparava para dizer algo, Gabriel hesitou:

- É brincadeira!

Tchau atitude, o garoto voltou. Dava até para sentir o cheiro de testosterona queimada. A pressão do moleque caiu, o suor tomou conta do corpo. Suas mãos tremiam. O pênis encolheu, suas bolas foram parar no intestino. Acho que ele até menstruou naquela hora.

O chefe, apesar de sério, até ria por dentro. Talvez ele admirasse o senso de humor do garoto. Do ponto de vista do poder, foi até engraçado.

- Calma rapaz, você está no caminho certo. Ta chegando a sua hora.

Gabriel é sujeito esperto. O cara é inteligente e poucas vezes ele encaixa uma frase no lugar errado. Nesse dia ele encaixou a segunda.

- Ta, mas é brincadeira viu?

terça-feira, 21 de julho de 2009

Primeira impressão

Lembro até hoje da primeira vez que comi sushi. Não gostei. Bastou um pedaço de salmão enrolado no arroz, que quase não cabia na minha boca, para me causar uma ânsia inexplicável. Jurei que nunca mais ia chegar perto daquilo. Em vão. Alguns meses depois lá fui eu, de novo, me aventurar na arte de comer os pedacinhos crus. Dessa vez consegui engolir e até arrisquei umas estratégias para pegar o hashi. Mas confesso que o gosto continuou incomodando. Acho que só lá pela quarta ou quinta vez eu me apaixonei. E deu no que deu. Hoje passo por algo parecido com uma crise de abstinência quando fico mais de um mês sem chegar perto daquele peixinho cru.

***

Bebi o primeiro gole de cerveja quando eu tinha uns 13 anos. Foi ridículo. Estava saindo de uma cachoeira com meu pai, na caçamba de um carro. Além de nós dois, mais uns cinco amigos bêbados dele e um isopor cheio de latinhas de cerveja, das mais geladas que se pode imaginar. O sol era escaldante e ninguém tinha levado uma mísera garrafa de água (porque será que homens mais velhos, barrigudos e fedorentos sempre acham que é um arraso andar com cerveja do lado, até em um dia de programa saudável embaixo de um sol insuportável?). Lembro direitinho. Influenciada por zilhões de propagandas, achava que cerveja e sol eram a combinação perfeita. Primeiro pedi autorização para o meu pai. Depois abri a latinha com a maior sagacidade, me sentindo uma pessoa de 16 anos. Foi então que bebi um golão com a maior sede do mundo. E o redondo não desceu redondo. Fiquei com gosto ruim na boca.

Passaram alguns anos para eu ter outra experiência com cerveja. Consegui beber mais de um gole, mas ainda assim não era lá essas coisas. O copo não era meu, apenas estava de bituca na cerva de outra pessoa. E foi lá pela quinta vez que eu tive um copo só pra mim e finalmente bebi com gosto. Depois disso, corri para o abraço. Vodka causa amnésia, cachaça causa ressaca e cerveja causa alegria. Até hoje.

***

Café era ruim. Só bebia em café-da-manhã de hotel. E tinha que ser da seguinte forma: uma xicarazona de leite com um dedinho de café. Café preto e puro era suicídio. Até que eu comecei a fazer curso de inglês às 14h, depois do almoço. O sono era inevitável. Comecei a fugir dos cochilinhos com balas de café. O gosto era tão ruim que eu até acordava. Ainda era resistente à bebida. Mas foi em um dos estágios, na época da faculdade, que eu mudei de opinião. Tinha aquele garçom, que servia um copo de água e um cafezinho às 14h e as 16h. Comecei com um copinho só no primeiro horário. Depois comecei a aceitar um golinho no meio da tarde. Não demorou muito e já pedia o duplo (um copo com a quantidade igual ao que cabe em dois copinhos). Hoje beber o cafezinho faz parte da rotina diária básica. Acordar, tomar banho, escolher a roupa, tomar café e por aí vai...

***

O leite de soja foi uma das minhas experiências mais recentes de má impressão na primeira vez. Li em vários lugares que era mais saudável e blá blá blá. Fui nessa. Encarei logo puro. Credo! Se ser saudável era aquilo, estava fazendo a minha escolha pela vida movida por frituras e gorduras. Mas a escolha durou dois, três dias. Pensei que o esforço valeria a pena. Mais um copo e nada. E foi lá pela quarta vez que eu bebi tranquilamente um copo de leite de soja. Depois bebi com Nescau, com Toddy, com Ovomaltine. E confesso: sinto muita falta quando abro a geladeira e não tem uma caixinha dele sorrindo pra mim.

***

Essas foram algumas das minhas más primeiras impressões que eu consigo lembrar (e que podem ser divulgadas). Por pior que parecessem, consegui encontrar um prazerzinho mínimo em tudo isso. E depois se tornaram totalmente compatíveis à minha vida.

Acho que é assim também com as pessoas. As vezes por fora são feias (como o scada), mal humoradas (como o preta), zz (como o zete) e até mau caráters (como a keyla). Mas no fundo tem coisa boa... tem que ter! As vezes a amizade não nasce na primeira conversa, o amor não aparece no primeiro olhar e você não é contratado na primeira entrevista. Mas vale a pena tentar descobrir as coisas boas.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

No avião

Sentei na 12E. Do meu lado, presidente de uma ONG.

- Oi!
- Oi!

1h30 de viagem. Tempo mais que suficiente para ganhar uma nova amizade.

- Você vai sempre pra lá?
- De vez em quando. E você?
- Uma vez por ano, representar a ONG num evento. Vou a convite.

Seis anos de diferença.

- Você trabalha?
- Trabalho. E você? Tem outra coisa além da ONG?

Dava aula. Se fantasiava de vovó e ensinava as crianças a se prevenirem da dengue.

- Gosta de festa?
- Gosto sim. Sempre bom. E você?

Era popular. Recebia convite para todas as festas da cidade. Já tinha ganhado prêmio de miss por três anos consecutivos. Contou das roupas que usou em casa uma das competições.

- Você namora?
- Não, não namoro. Vc?
- Namoro. Já faz mais de um ano.
- Como vocês se conheceram?
- Pela internet. Marcamos um encontro e tudo aconteceu.

Começaram a namorar depois de uma semana.

- Gosto quando ele fica de cueca branco. Fica lindo.
- Hmm...
- A gente brigou ontem. Ele não queria que eu fosse. Acha que eu vou trair. Até parece.
- Ele não vai?
- Não. Ganhei a passagem. Ele não acreditou

Serviço de bordo. Cachorro-quente e refrigerante para acompanhar a conversa.

- Posso usar a sua mesinha? Não consigo abrir a minha...

Tinha uns quilinhos a mais.

- Quando eu fui miss, não tinha esse corpo. Mas o prêmio não é só pela beleza. Simpatia, figurino e presença de palco também contam.
- Legal.
- Mas acho muito importante que a mulher se arrume, independente de uma competição. Tem que se maquiar, se produzir.

Deu algumas dicas de como passar blush e qual o tom certo de pó para cada pele.

- Obrigado.

Apertamos os cintos. O avião pousou.

- No domingo, você e seus amigos podiam ir lá.
- Quem sabe? Vou falar com eles...
- Ai você me procura! Vamos trocar MSN! Qual o seu?
- Anota o seu aqui.

Anotou o MSN e o Orkut. Se apresentou como Grampola. Ela era ele. Presidente de uma ONG GLS, três vezes miss Drag Queen e namorado de Pedro. Ganhou de empresários passagem de ida e volta à São Paulo, além da estadia na Av. Paulista. Estava indo para a Parada do Orgulho Gay.

Nos despedimos no aeroporto mesmo. Cada uma seguiu seu rumo. Não nos falamos mais. No domingo à noite, vi Grampola pela última vez. Apareceu num programa popular da TV aberta:


3m15s

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Astrologia: Mapa astral

Ta legal. Vou falar de astrologia. Minha parceira de blog e eterna amiga me autorizou, então eu vou soltar o verbo – não que eu precise da autorização dela, só estou querendo evitar surpresas.

Concordamos que poderíamos ficar rico com isso, cada mapa astral custa em média R$ 70,00, mas decidimos por fazer um favor à utilidade pública. Então ao invés de explorar, iremos revelar a verdade – como se a verdade não estivesse clara.

*

Segundo o site Porto do CéuO mapa astral é como uma impressão digital, ninguém possui um igual ao de outra pessoa. (...) A posição dos planetas do sistema solar dentro dos signos do Zodíaco (...) formaram um desenho único, simbolizando os vários planos da sua psique, a sua vida prática e realidade espiritual. [sic]”. É desse mapa que eles tiram o seu signo, seu ascendente, o descendente e até o dente-de-leite. Alguma dúvida?

Eu tenho algumas: Eles utilizam os conhecimentos astronômicos para descrever a psique e o espírito de cada indivíduo? E quando a astronomia muda de idéia, os astrólogos também mudam? Se a astronomia apresentar novos fatos, as influencias astrológicas também se renovam?

Bom, até a crise de 29 – o crash da bolsa de Nova Iorque – ninguém conhecia Pluto. Para quem não sabe, Pluto é o mascote do Mickey e ele tem esse nome por um motivo muito interessante. A mulher de Walt Disney sugeriu que o nome do simpático cão fosse alterado de forma que pegasse carona na mais nova descoberta científica da época: A descoberta de Plutão, em fevereiro de 1930. Então meus caros, Pluto e Plutão ficaram conhecidos apenas após o crash da bolsa. Antes disso qualquer mapa astral sofria de sérias imprecisões. Imagino que um mapa astral sem um planeta seja como um mapa-múndi sem um continente. Certo?

- Ok, agora que está tudo certo, vamos navegar. Já temos nosso mapa-múndi completo, tudo o que preciso é seguir em linha reta e descobrirei a América.

E la se foi a humanidade, reta e certa como uma flecha, em direção a verdade aparente. E o que encontramos?

- Uma ilha! Mas era pra ser um continente. Esse mapa aqui previu um continente. Onde erramos?

Essa surpresa deve ter sido bem desagradável. É que aconteceu uma mudança. Até 2006 Plutão era classificado como um planeta normal, mas acontece que a descoberta de vários corpos celestes de tamanho comparável, e até mesmo de outro objeto maior no Cinturão de Kuiper, fez com que a União Astronômica Internacional decidisse considerá-lo apenas como um "planeta-anão" – coitado de Pluto, ainda bem que Walt Disney não viveu para ver isso.

Mas Plutão não estava sozinho, ele foi classificado juntamente com Éris e Ceres, este último localizado no cinturão de asteróides entre Marte e Júpiter. Alias, Ceres já foi considerado um planeta, mas após a descoberta de corpos celestes semelhantes na mesma área do sistema solar, foi reclassificado como um asteróide por mais de 150 anos.

- Assim não da, meu mapa astral já ta ficando todo zoado.

Isso sem contar Netuno, que também é uma descoberta recente de 1846, ou Urano que já é mais velho, descoberto em 1781 - dizem que Papai Noel mora la, essa história de pólo norte é furada.

A verdadeira Astrologia analisa o Mapa do Céu de uma pessoa, que possui todos os signos, além dos ‘planetas’ do sistema solar, cada um representando um plano da psique humana. [sic]” (Porto do Céu)


Leia pausadamente: Cada planeta representa um plano da psique humana. Agora segure o riso.

Segundo minhas fontes, existem 88 constelações conhecidas, mas para a astrologia só 12 são úteis, ou fazem efeito. Por que? Eu não sei! Tudo o que sei é que das 13 constelações Zodiacais, eles só precisam de 12. Algo deve acontecer de muito grave para eles ignorarem Ophiuchus, o Serpentário. Essa constelação é representada por um homem segurando uma Serpente. Sempre as serpentes, todos têm implicância com elas.

Então vejamos, a astrologia é uma “ciência” que ajuda, mas não explica a psique e o espírito humano. Ela se baseia no alinhamento de corpos celestes arbitrários, todos atestados pela astronomia, e afirma que isso influencia a nossa forma de viver. Da astrologia podemos tirar o mapa astral que custa R$ 70,00, mas nada do que ele diz é preciso e quando acerta é algo que você já sabia. E ainda tem gente que paga por isso?

Bom, to cobrando metade do preço para contar uma piada por dia e o dobro para contar uma mentira. Se no final do ano eu tiver contribuído com a felicidade da humanidade, isso significaria um lucro bruto de R$ 12.775,00. Mas com R$ 51.100,00 a felicidade seria minha.

Por esse post, mereço R$ 35,00 ou R$ 140,00?

terça-feira, 14 de julho de 2009

Domingo no Morumbi

Antes de qualquer coisa, que surra foi essa que o Santos levou? Alguém anotou o número da placa? Gabi, eu já te falei antes e digo novamente, o Santos não fede nem cheira. Parece o Botafogo no Rio. Sem contar o nome, que não diz nada, não é nada, apenas o plural de algo que o São Paulo seria, caso existisse.

*

Domingo fui ao Morumbi, ver meu time jogar – estou falando do Mengão é claro. O público era pequeno, fora do estádio não havia confusão e as torcidas estavam bem misturadas. Confesso que não esperava por isso.

Na entrada uma mulher toda de branco panfletava, logo imaginei o tipo de coisa, o título do texto dizia “O Fim do Mundo 21 de Outubro de 2011 [sic]”.

- Fim do mundo será se o meu Mengão meter uma goleada no São Paulo hoje!

Foi então que decidir ler o que estava escrito no texto:

“O propósito deste folheto é para informá-lo de uma grande urgência que existe em todo o mundo e é para que todos devam se reconciliar com Deus. A Bíblia é a Palavra de Deus. (...) [sic]”


Parei na bíblia. Quaisquer argumentos pautados nos textos bíblicos não me interessam. O mundo não acabou em abril de 2008, também não acabou em 2000, em 1997 passou reto e com certeza em 2011 o Mengão será penta-carioca.

Não entendo como um livro pode estar errado há mais de 2000 anos e ainda ser uma referência moral. Essas coisas rendem bons livros.

Então la fui eu, me infiltrei na torcida bambi com a camisa do Mengão por baixo do casaco - a área destinada ao rubro-negro já estava lotada. Adrenalina pura! É horrível reprimir 20 anos de instinto treinado para gritar gol ao ver seu time vencendo. Inevitavelmente a gente acaba pulando e no instante seguinte temos que soltar um palavrão bem profano.

- Putaaa que o pariu desgraçaaa! MALDITO.

No fundo a gente rir. Mas minha felicidade durou pouco, logo o São Paulo empatou.

- Issooooo... (Gritei)
- Filho da puutaa! (Pensei)

A angústia me dominava, mas eu seguia torcendo. No meio do jogo o placar anunciava os resultados de outros jogos, o tricolor carioca perdia. O Paulista poderia seguir o mesmo rumo.

- Pênalti para o Flamengo. Não acredito.

Saquei a câmera, já estava ficando abusado, até me lembrei da mulher de branco e o juízo final. Decidi que iria filmar o gol, Adriano iria bater. Eu já tinha tudo em mente: Adriano bate; Gol do Mengão; Maior torcida do mundo em chamas. Segue o resultado:



Mais uma vez soltei uma daquelas palavras bem pejorativas e sujas. Eu nem acreditava, o urubu iria reinar em pleno Morumbi e eu teria que blasfemar contra meu time até que me visse longe do estádio.

Para a minha sorte – estou sendo irônico – o São Paulo empatou o jogo e tive que me contentar com o empate. Embora ainda ache que o Flamengo merecesse a vitória, provei mais uma vez que o mundo não acabou nesse domingo e muito provavelmente não acabará em outubro de 2011. Até la, seremos penta-carioca!

segunda-feira, 13 de julho de 2009

No dia que Michael Jackson morreu

Dias desses fui visitar um amigão que não mora mais aqui na cidade. Juntei dinheiro, comprei a passagem e numa quinta-feira embarquei para a tão aguardada temporada. Fiquei num hotelzinho meia boca, já que ele estava recebendo visita em casa no mesmo fim-de-semana. Ah, o nome dele é Fernando, mora sozinho, mudou de cidade para trabalhar e não nos víamos há pouco mais de um ano. A pessoa que ele estava recebendo era uma antiga paquera. Não me lembro o nome dela, então vou chamá-la de Keyla.

Para prosseguir com a minha aventura, tenho que contextualizá-los sobre o relacionamento de Fernando e Keyla. Eles se conheceram no começo do ano, na praia. Foi um desses amores de verão totalmente movido por prazeres carnais. Fernando é ateu. Keyla é evangélica. Fernando identifica uma cachaça só pelo odor. Keyla não bebe.

Graças ao MSN, Orkut, e bla bla blas tecnológicos, a paquera não morreu. Keyla teve a grande idéia de visitá-lo. Fernando estava pensando que seriam dois, no máximo três dias. Errou feio. Keyla chegou com duas malas, um secador e muita simpatia para ficar sete dias. Ah! Um grande e importantíssimo detalhe: Fernando é do tipo solteiro convicto, nunca namorou e não vê a menor graça nisso. Mais de cinco horas do lado de qualquer mulher que não seja irmã ou prima, por mais gostosa que seja, é um martírio.

Ok, voltemos. Eis que chego à grande cidade no fim da tarde de quinta-feira. Liguei na mesma hora para o Fernando para agilizarmos um encontro, um evento, uma jogatina. E para eu conhecer a tal namoradinha. Keyla já era hóspede dele desde a noite de terça-feira. O desespero da convivência já estava começando a ficar nítido. Do outro lado do telefone, a voz agoniada do bichinho: “Fi, não agüento, não agüento! Vou dar um zig nessa mina hoje!”. Tudo que eu pensei foi: “Cara, ta viajando! A guria ta lá, dormindo na casa dele.. como ele vai dar o vaza?”

Eis a resposta. Algumas horas depois, a gente se falou de novo. Fernando já estava com uma boa quantidade de álcool no sangue, comemorando a tal virilidade. “Fi! Dei o zig, dei o zig!”, gritava. Ele estava num pub enchendo a cara. Inventou uma mentira sinistra pra garota: falou que estava num happy hour do trabalho e que tinha ido de carona. O cara-de-pau ainda pediu pra que ela deixasse o ape aberto porque não sabia que horas e nem como ia voltar pra casa. A menina acreditou. Mentiroso desgramado! Essa foi mais uma das provas de como o Fernando é sagaz e de como os homens, definitivamente, não prestam. Mas confesso que a sagacidade foi grande e louvável. Fui encontrar ele.

Nesse meio tempo, algumas coisas estranhas aconteceram. Meu tio me visitou no hotel e ficou falando sobre a minha vida profissional. Além disso, os jornais do mundo todo falavam que Michael Jackson, o rei do pop, tinha morrido.

Fernando estava bêbado, trebado. Poucas vezes o vi dessa forma. Ele sorria, abraçava as pessoas. Não parecia nem um pouco com a pessoa melancólica que eu tinha falado mais cedo. Uma bela comemoração do triunfo. Entrei na onda. Jogatina e dança comandaram a noite. E para finalizar, o perdido máster: o jovem simplesmente dormiu fora e voltou para a casa pela manhã.

No dia seguinte, obviamente a menina deu o troco. Mexeu no armário do rapaz, vestiu uma camiseta de sair dele, trancou o apartamento e foi malhar na cobertura. Tudo isso sem avisar, claro. E ele descobriu isso quando chegou em casa, atrasado para o trabalho, querendo pelo menos trocar de roupa. Diz ele que, depois de ligar inúmeras vezes no celular de Keyla, ela apareceu com aqueles olhos do gato de botas do Shrek, como quem pede desculpas. No entanto, tenho minhas dúvidas. Sou capaz de defender descaradamente que a menina tinha um sorriso malicioso e um olhar de vingança.

E chegava o fim-de-semana. Na sexta achei melhor nem incomodá-lo, para ele poder curtir um pouco mais das maravilhas do romance. Não sei o que aconteceu nesse dia, mas coisa boa não foi. No sábado, enquanto confundia meu sonho com as brigas da recepcionista e um hospede do hotel, acordei com a ligação do meu amigo: “Fi, tenho que falar rápido. Ela saiu, foi numa feira aqui perto. Cara, não dá, não dá – na voz mais desesperada que puder imaginar – não dá! Me ajuda a bolar um plano! Hoje ela vai ter que sair da minha casa”.

A princípio parece a atitude mais malvada que alguém pode ter! E, de verdade, naquela hora não quis nem ouvir as justificativas para tanto desespero. Mas, com o passar dos dias e ouvindo melhor os detalhes da relação atípica (mas bem típica para ele) é totalmente compreensivo tudo isso.

No entanto, mesmo sem saber de um quinto das peculiaridades daquela moça, apertei a mão do meu amigo, por telefone mesmo, e oficializei, naquele momento, a maior prova de amizade que eu poderia dar e a maior falta de lealdade com o universo das mulheres que poderia sair de mim. “Ok, conta comigo!”. Desliguei o telefone, liguei a televisão e peguei um chocolate. Fui pensar. Se pudesse citar a cena de um filme para retratar isso, seria a do “Esqueceram de mim”, quando o Macaulay Culkin descobre que os ladrões vão assaltar a sua casa e começa a mirabolar mil e um planos infalíveis.

Nos falamos mais umas 28 vezes, no mínimo. Por fim, a melhor estratégia que eu consegui propor foi que ele falasse a verdade, mesmo que pra isso fosse necessária uma D.R.. Doce ilusão feminina. Fernando apareceu com algo melhor. Ou pelo menos muito mais perigosamente emocionante. Seria o seguinte: uma namorada (que nunca existiu) iria chegar de surpresa na noite daquele dia. O affair entre ele e essa suposta garota teria acontecido depois do romance de verão. E tudo acabou por que a garota teve que mudar de cidade. E para tranqüilizar um pouco, ele iria comprar uma caixa de chocolates para aliviar o impacto da notícia.

Ok. Este é o pior tipo de cafajeste que alguém pode pensar em imaginar. Mas foi o que ele fez. E eu, depois de entregar inocentemente a minha amizade para ajudar até os mais injustos dos amigos, só pude concordar com o plano. A minha parte seria ficar de prontidão para o caso da Keyla não acreditar na história falada e ter que ver a suposta namorada (que seria representada fisicamente pela minha pessoa). Também tive atos malvados pensados. Mandei mensagens fofas e até o horário e o número de um vôo qualquer da Gol, para que ele pudesse ter provas concretas. Fiquei esperando para ver qual seria o próximo passo.

(No filme de Macaulay Culkin, essa é a hora que ele entra na igreja, um pouquinho antes das armadilhas serem colocadas em prática)

Não precisei sair do ar-condicionado do hotel. Fernando contou a falsa história de amor e Keyla acreditou direitinho. E quem pensa que ele foi sagaz, ainda não viu nada. Keyla precisava só aceitar a lorota. Mas a espertinha (sim! Espertinha! Neste momento vi que ela não era nem um pouco boazinha e que os movimentos pareciam bem mais friamente calculados que os do Fernando), aquela moça boa e que não bebia quis mais. Bastou isso para que ela admirasse a lealdade do rapaz com a tal namorada invisível. E qual a melhor forma de mostrar tamanha admiração? Ok, isso mesmo. Da forma mais sedutora, quente, suja (sim, oras!) e prazerosa. Brindou a canalhisse com taças de vinho. Por fim, a cara-de-pau ainda ajudou o rapaz inocente à arrumar a cama, com as almofadas nos devidos lugares. Afinal, o grande amor dele estava chegando em algumas horas.

Keyla foi embora. Fernando pagou o táxi. Vitória sagaz. Eu consagrei minha cabeça masculina. E decidi: nunca mais vou acreditar nos homens. Tenho motivos de sobra. A noite acabou com uma comemoração sagaz. A cerveja era liberada até as 6h30. Fui embora no dia seguinte. E os jornais não mentiam: Michael morreu mesmo. Parece que ele teve uma parada cardíaca. Pelo menos é o que dizem.


*** Um pouquinho de realidade, um poquinho de ficção.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Morrison Rock Bar

Vou dar um strap-on para minha parceira de blog. Ela é pegadora e às vezes é ZZ, mas sempre é sagaz.

Deixando a babação-de-ovo de lado, vou me gabar agora. Um dia desses fui beber com uns amigos e no final da noite decidimos entrar em um pub. Como sou novo na cidade, era a primeira vez que entrava no Morrison Rock Bar, um pub muito bom aqui de São Paulo. O local é agradável e o acesso ao álcool é bem fácil, não tem como ficar sem beber. Então bebi!

No meu álcool ainda corria um pouco de sangue, mas resolvi esse problema fácil. Da cerveja gelada do bar para a cachaça quente do pub. Foi um tiro certeiro. Não gosto muito de fazer apologia a esse estilo de vida e para ser bem sincero, procuro levar a vida mais saudável possível. Sempre, todos os dias! Mas não tem jeito, quando saio pra me divertir, procuro ser profissional. Preto no branco. Vamos tomar umas? Então vamos.

Foi então que me vi no meio do corredor de acesso a escada flertando com todas as donzelas desacompanhadas do recinto. Uma belezura! Era brinde pra cá, piadinhas pra la. Cantadas de mal gosto, até de gringo me fingi. Como eu disse, profissional da diversão.

Todo mundo já ouviu falar que bêbado fica corajoso. Eu sei disso e é disso que vou falar aqui. Mas sejamos claros, não to falando da coragem de enfrentar um ogro bêbado, ou um troll enciumado. To falando de coisas mais simples, que envolvem menos riscos. Aliás, essas coisas deveriam ser padrão para todos os homens do planeta, ou pelo menos para os pegadores. To falando da atitude de encarar a mulher mais cobiçada do local e partir para o ataque. Pra que se contentar com a média quando podemos estar acima dela? O céu é o limite, e nesse caso digo literalmente.

- Um brinde!?

La estava eu, um metro e setenta e cinco, olhando para cima e oferecendo um brinde para a loira mais alta da festa. Perguntei quanto ela media e logo deduzi que estava de salto. Ela tinha 1,80m de altura, mas tava batendo na casa de 1,90m naquela noite. Pobre de mim, que para piorar estava usando apenas um velho Allstar – como diz um bom amigo meu, o esquema é usar Nike Shox. Ok! Piada vai, piada vem e me arrisquei. Fiquei na ponta do pé:

- Bom, para te beijar preciso ficar assim!

Façam suas apostas. Urrem os tambores. Essa cena poderia vir acompanhada da trilha sonora de 2001: Uma Odisséia no Espaço. Imagine tudo em câmera lenta, seria perfeito. A glória no auge da madrugada. Nos beijamos.

Que coisa ridícula. Foi a melhor e a pior coisa da minha noite. Eu vi uns caras comemorando de longe, nem acreditei. Eles tiraram até foto. Também pudera, um cara na ponta do pé ficando com uma garota, os papeis estavam totalmente invertidos. Seria uma piada, se não fosse meu momento de glória.

Me ofereci para comprar uma bebida e no bar os caras me abordaram. Eles riam muito e me mostraram a foto. Nem acreditei, era ainda mais ridículo vendo assim de outro ângulo. Obviamente trocamos uma idéia e eles perguntaram como consegui.

- Nem eu sei como consegui! Só sei que fiquei na ponta do pé...

Bom, essa é minha história. Ficamos mais um tempo e anotamos os celulares. Ela ainda me disse para ligar no dia seguinte. Obviamente não liguei, tenho um sério problema para confiar nas pessoas. Sempre acho que tão me fazendo de trouxa. Não liguei, mas mandei uma mensagem. Se o numero for real ela vai retornar.

Jamais retornou. Virou lenda: A loira do pub.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Campo de Detenção da Baía de Guantánamo

Hoje é feriado aqui em São Paulo, isso significa que tenho um tempo extra para atualizar o blog. E já que comecei falando da cidade, vou contar uma história que aconteceu aqui, mais precisamente no meu quarto.

Eu estava comendo um arroz com carne moída e farofa – havia preparado a refeição no dia anterior – e assistindo um documentário sobre prisões que passa no National Geografic Channel – o programa é interessante e mostra bem essa realidade dos sistemas penitenciários gringos. A prisão do dia era Guantánamo ou para os mais íntimos: Campo de Detenção da Baía de Guantánamo. Foi então que perguntei:

- Keyla, você sabe que prisão é essa?

Aaaah sim, sim... Siiim! Ela mesma, a Keyla. Obviamente esse não é o nome verdadeiro da sapequinha, mas se quiser saber mais sobre a peça rara clique aqui.

- É a prisão onde os terroristas ficam preso!?

Um pouco vago, mas ela acertou. Para um americano típico, sim, é a prisão onde os terroristas estão presos. Não preciso entrar em detalhes a respeito. Mas foi então que, cheia de orgulho, segura de si mesma, ela solta a pérola:

- Então Nando, é onde o Osama bin Laden e Saddam Hussein estão presos!

Não é piada. Eu me perguntei a mesma coisa na hora, mas não é piada. O negócio é bem sério, algo deu muito errado la dentro daquele crânio.

- Keyla, Saddam morreu faz tempo e Osama nunca foi preso. Você não sabia disso?

A resposta obvia à essa pergunta veio em forma de idéia. Se houvesse uma onomatopéia para acompanhar essa idéia, seria algo parecido com o som de uma flatulência.

- Ué, e por que eles não matam logo todos esses terroristas presos. Pra que deixar eles vivos ai?

Bom, a partir daí tive que explicar alguns conceitos de justiça, a utilidade de provas em um julgamento, por que deveríamos colher evidencias e todas essas coisas básicas do universo jurídico que até uma criança entende.

Obviamente não tive muito resultado. Discutir com portas e azulejos não trás beneficio algum.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

ZZ segundo R. Halyba

Há algum tempo o termo ZZ faz parte do vocabulário dos jovens de Brasília. A expressão, apesar de intensamente usada, ainda não possui uma definição clara. O neologismo é utilizado como adjetivo, substantivo ou verbo. A única certeza que se tem é que a duplicata da última letra do alfabeto carrega um forte apelo e apego emocional.

A nossa equipe conversou com Raoni Halyba. O jovem é especialista aficionado pelo tema. O moço garante que a expressão ultrapassa o limite do vocabulário dele e está visivelmente presente no seu estilo de vida. Confira abaixo o bate-papo descontraído com o rapaz.

ZZ Sagaz - Qual a definição de ZZ para você?
R. Halyba - ZZ é um estilo de vida, um jeito de ser, de andar, de vestir, de se mover e de mover o mundo ao seu redor. É uma condição sub humana, mas que tem muito a nos acrescentar.

ZZS - Sub humana?
RH – É. Tipo subway, só que com humanos.

ZZS – Você poderia ser mais claro?
RH - O indivíduo ZZ não usufrui das mesmas regalias dos da classe dos pegadores. Mas não é por isso que devemos tratá-los com desigualdade. Afinal, o bonito do mundo é a diversidade. Eu sou pró o convívio pacífico entre pegadores e ZZs.

ZZS - O ZZ não é pegador?
RH - Por definição, são antíteses. Não que o ZZ não pegue ninguém. Mas ele não é um pegador. O ZZ é como um arame liso que serve pra cercar. Já o pegador é o chamado cerol farpado: não deixa passar nada!

ZZS - De onde surgiu a terminologia ZZ?

RH - Meu primeiro contato com a terminologia ZZ foi com um grande amigo (pegador diga-se de passagem). E dizia ele que o termo tinha evoluído de "zero a zero". A definição saiu daí, do lance da pegação e tal. Mas hoje em dia o termo já criou vida própria e varias coisas podem ser ZZ. Uma atividade pode ser ZZ, por exemplo.

ZZS - Você se considera ZZ?
RH - Eu me considero deveras ZZ mas, como dizia um matador de aluguel conhecido, "eu dou os meus tiros" (risadas).

ZZS - Você considera seus amigos ZZ?
RH - Tenho amigos pegadores e amigos ZZs, amigos que se acham pegadores mas são ZZs e amigos que se fingem de ZZ mas são pegadores. E esses últimos, caros, são a raça mais perigosa. Todo pegador gostaria de ser confundido por um ZZ.

E para você, o que é ser ZZ? Deixe seu comentário e ajude a definir o significado do conjunto de consoantes.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Como tudo começou

Noite de sábado. Como a maioria de brasilienses, o programa que me restava era a mesa de bar, já que eu não tinha 50 reais para desbancar em um samba inflacionada para os playssons da cidade.

Amigos, discussões polêmicas, uma cervejinha ali, outra aqui... e lá pelas tantas decido parar de beber. Alguns se limitam a me chamar de franga.

Eis que o garçom surge:
- Mais algum pedido?
- Outra cerveja.
- Mais duas seletas
- E você, gabi?
- Não quero nada.
- Não quer nada?!
- Garçom, para ela um copo de leite!
- Ok, senhores.

Ainda falo com aquele indivíduo sorridente, vestido de preto e crente que era o responsável pela animação da nossa noite : “Se você se atrever a trazer esse copo de leite, vou escrever para o jornal falando que não fui bem atendida". Em vão. Cinco minutos depois aparece o tal garçom, se achando O pegador, com um copo de leite. Quente! E um pote de açúcar! (sei lá, né? já que não tinha nescau, vai só o açúcar mesmo). Me recusei a beber. Teve quem bebeu.

Foi assim que terminou mais uma noite de sábado em Brasília. E foi assim que descobri o significado de ZZ.

p.s.: Moral da historia: se não quiser beber leite, arranje 50 reais e vá para o samba!

*

Sou a Gabi, a outra colaboradora. Espero não ser ZZ suficiente ou ser ZZ insuficiente para escrever aqui. A sagacidade não será problema: ela me acompanha. Abraços pegadores!