quarta-feira, 22 de julho de 2009

Brincadeira na churrascaria

A história que vou contar aconteceu numa famosa churrascaria de Brasília. Não era a mais cara, mas era bem conceituada. A carne de la é boa, o rodízio é bem completo e o preço o mais acessível da cidade. Na época um amigo meu trabalhava como garçom – era ele quem servia a alcatra e era ele o personagem central dessa lorota.

Gabriel é um sujeito baixo, gente boa e bem desenrolado com as mulheres. Apesar da sua altura poderíamos considerá-lo um cara pegador, um macho semi-alfa entre seus amigos.

Como em todo local de trabalho, na churrascaria há hierarquia e cargos. Os funcionários almejam a ascensão e um desses caminhos passa pela anatomia bovina. O sistema é complexo, mas basta entender que o garçom que serve picanha é mais experiente que o da maminha.

Gabriel servia Alcatra, estava bem na hierarquia, mas trabalhava apenas meio período – o período da noite. Era como um freelancer da carne, o contrataram assim, mas assim não queria ficar. Ele queria carteira assinada e queria crescer. Quem sabe picanha, que sabe metri.

Certa quarta-feira, no começo do expediente, seu chefe o chama e diz que iria mudá-lo de área, digo, de carne. A partir de segunda iria servir cupim.

- Que grande bosta! Vou servir carne gordurosa. Fui rebaixado – pensou Gabriel com toda sua testosterona a flor da pele.


Mas era pior que isso. O cupim é uma carne pouco apreciada, bem gordurosa. Apenas os gordos e peludos a solicitam. Nada de jovens e belas malhadas do lago sul, nada de peitudas e seus decotes. Ninfetas nem pensar. Como poderia dar aquela olhadinha por cima, da posição privilegiada e superior de um digno garçom de alcatra. E sim, era ainda pior. Ele teria que trabalha no período integral, mas nada de carteira assinada. Nada de um salário à altura. Nada de porra nenhuma.

Gabriel então teve uma idéia. Iluminou-se por dentro, respirou fundo, encheu o peito de ar. Algo de macho bem alfa o impulsionou em direção ao chefe, como um lobo que desafia a hierarquia, que se prepara para uma luta, prestes a destronar um rei.

- Ó, se vocês me quiserem em período integral, podem me contratar. Quero carteira assinada.

Foi a maior de todas as atitudes profissionais do garoto. Ele enfim virará homem, sua transformação estava completa. Poderia sair de la sem emprego, mas sairia como homem. Viril e sagaz, cheio de autoconfiança. Um alfa dominante.

O chefe o olhava por cima dos óculos, a cabeça ligeiramente inclinada para frente. O contato visual foi forte e intenso. No instante em que se preparava para dizer algo, Gabriel hesitou:

- É brincadeira!

Tchau atitude, o garoto voltou. Dava até para sentir o cheiro de testosterona queimada. A pressão do moleque caiu, o suor tomou conta do corpo. Suas mãos tremiam. O pênis encolheu, suas bolas foram parar no intestino. Acho que ele até menstruou naquela hora.

O chefe, apesar de sério, até ria por dentro. Talvez ele admirasse o senso de humor do garoto. Do ponto de vista do poder, foi até engraçado.

- Calma rapaz, você está no caminho certo. Ta chegando a sua hora.

Gabriel é sujeito esperto. O cara é inteligente e poucas vezes ele encaixa uma frase no lugar errado. Nesse dia ele encaixou a segunda.

- Ta, mas é brincadeira viu?

Um comentário:

  1. Sensacional! Ri demais... Aliás, to rindo até agora! hahahahahhaha..
    Mas é verdade essa história?! Não, né? Seria muuuuitíssimo zz! hehe
    ;)

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